segunda-feira, 29 de junho de 2009

Como a gravidez afeta o olfato e o paladar?


Quando a rede de supermercados britânica Tesco pediu que mulheres grávidas fossem degustar seus vinhos em 2004, ela não estava defendendo a síndrome fetal do álcool. As degustadoras de vinho do Tesco não bebem os vinhos, mas os fazem girar em suas bocas para sentir o sabor e então cuspi-los.

Por que a Tesco quis mulheres grávidas, entre todas as pessoas, para fazer isso? A rede esperava tirar vantagem dos narizes e dos paladares de mulheres grávidas para obter os melhores vinhos para seus clientes.

A campanha da Tesco foi inspirada pela sommelier da rede, que engravidou e relatou que sua experiência em degustar vinho se tornou muito mais pronunciada. Ela não está sozinha em descobrir seus sentidos alterados: livros de gravidez alertam sobre o efeito, e vários estudos em que mulheres relataram suas percepções sensoriais descobriram que a maioria das mulheres notou uma mudança.

Um desses estudos, publicado em 2004, pediu a mais de 100 grávidas para relatar sobre seus sentidos em vários pontos da gravidez, e 76% das participantes experimentaram uma mudança no olfato e no paladar [fonte: Nordin et al]. Dois terços das mulheres relataram aumento na sensibiidade a odores, mas elas também relataram distorções de cheiros, cheiros ilusórios e sabores anormais, incluindo sensibilidade aumentada a amargo e diminuição da sensibilidade a sal [fonte: Nordin et al.]. Na maioria das vezes, as mulheres experimentaram esses efeitos durante o primeiro trimestre de gravidez, embora um percentual pequeno tenha relatado as alterações no último estágio da gravidez. Depois da gravidez, todas as mudanças de percepção de cheiro e sabor desapareceram.

Infelizmente, os cientistas não podem respaldar esses relatos com nenhum dado real e concreto. Quando a Tesco anunciou seus planos, um médico do Britain's Royal College of Obstetrics and Gynecology disse que não havia evidências da intensificação do paladar durante a gravidez e acusou a rede de estar fazendo publicidade da ingestão de bebida alcóolica durante a gravidez [fonte: BBC]. Mas um especialista em odores reagiu dizendo ser muito difícil estudar o efeito, já que cada grávida experimenta a alteração de forma diferente [fonte: Sample]. Os cientistas discordam seriamente sobre as origens dessas mudanças.

Sentidos acentuados durante a gravidez

Como muitas coisas durante a gravidez, as mudanças nos sentidos da mulher são amplamente atribuídas aos hormônios. Quando as mulheres engravidam, seus níveis de estrogênio aumentam. O estrogênio também está relacionado com o aumento da percepção do cheiro em não grávidas. Um estudo de 2002 conduzido pelo Monell Chemical Senses Center, da Filadélfia, mostrou que mulheres em idade fértil mostram uma sensibilidade maior a odores do que os homens. Em grupos com níveis de estrogênio menores - meninas preadolescentes e mulheres pós-menopausa -, a sensibilidade se equipara à dos homens [fonte: Harvard Women's Watch]. Por isso, à medida que os níveis de estrogênio sobem e descem, a percepção de odores pode mudar.

Há evidência de que o olfato da mulher também muda durante o ciclo menstrual e na ovulação, bem como durante a gravidez [fonte: Sample]. Mas os cientistas não estão extamente certos sobre como (ou se) o estrogênio cria a alteração no nariz ou no cérebro [fontes: Harvard Women's Watch, Pletsch and Kratz].

Os cientistas também discutem se a intensificação dos sentidos da mulher grávida tem algum benefício para ela ou para o feto. Alguns pesquisadores acreditam que a sensibilidade a odores e a sabores provocam os enjôos matinais, beneficiando as mulheres, porque elas rejeitam alimentos contendo substâncias químicas e toxinas prejudiciais ao feto [
fonte: Nordin et al]. Cientistas que endossam essa teoria dizem que isso explica porque as mulheres grávidas são mais sensíveis ao cheiro e sabor do cigarro, ao álcool, a vegetais amargos e a bebidas cafeinadas, como café. Alguns dados mostram que mulheres que sentem náusea têm uma taxa menor de abortos, sugerindo que o nariz está fazendo seu trabalho em manter o bebê seguro [fonte: Stanford Report].

Outros cientistas pensam diferente. Um estudo de 2004 testou a seguinte hipótese: como as mulheres grávidas têm maior sensibilidade a odores e sabores, elas classificariam produtos contendo toxinas de forma muito mais negativa. Isso mostrou ser verdade? Não realmente. No experimento, as mulheres grávidas não demonstraram nenhuma sensibilidade a cheiro. Não houve evidência de que elas tivessem uma sensibilidade a odores maior do que as mulheres não grávidas, e houve poucas diferenças entre mulheres e homens em geral [fonte: Swallow et al]. Mulheres também não classificaram os cheiros de produtos perigosos mais negativamente, e houve pequena correlação entre classificação de odores e náusea [fonte: Swallow et al].

Os autores do estudo não mencionaram que talvez a náusea do enjôo matinal acontecesse quando o produto já havia sido, na verdade, provado, e não apenas cheirado. Um quarto das mulheres relatou sensibilidade anormal do paladar nos estágios iniciais da gravidez, incluindo acentuação da sensibilidade a items amargos e diminuição da sensibilidade a items salgados [
fonte: Nordin et al]. Novamente, a sensibilidade a items amargos, como café, pode ser uma forma de o corpo proteger seu bebê não nascido. De modo oposto, uma diminuição da sensibilidade ao sal pode ajudar as mulheres a consumir mais sal, o que, em troca, faz com que elas sintam mais sede e, consequentemente, consumam líquidos e vários nutrientes de que precisam para suportar o feto [fonte: Nordin et al.].

Como as mudanças no olfato, tem sido difícil para os cientistas precisar as alterações no paladar e o porquê de elas ocorrerem. Mas quando uma mulher grávida mal-humorada reclama desses sintomas, é melhor não dizer que não há evidências científicas do que ela está sentindo. Em vez disso, as mulheres grávidas deveriam simplesmente tentar evitar os cheiros que agravam esses sintomas, que podem incluir permitir que o marido faça a comida ou pedir polidamente que o colega de trabalho não use determinada colônia. Mulheres grávidas deveriam tentar deixar as janelas abertas quando possível para ventilação, e poderiam testar se odores calmantes como os da menta, do limão ou do gengibre proporcionam algum alívio. [
fonte: Murkoff].

Fonte: HowStuffWorks

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